Comunidade brasileira nos EUA se mobiliza para participar do censo do país
Foto: Reprodução/TV Globo
Multidão celebra o Brazilian Day, festa da
comunidade imigrante em Nova York (Foto: Reprodução/TV Globo)
Oito meses antes do início, em abril, da contagem oficial da
população dos EUA pelo censo do próximo ano, rádios e TVs
voltadas para imigrantes brasileiros no país fazem campanha para
que estes participem do processo e sejam incluídos nos dados
oficiais do governo norte-americano.
A intenção é fazer com que os brasileiros sejam contados para que
o grupo possa se fortalecer politicamente, passando a ser visto
como relevante para a sociedade norte-americana, explicou, em
entrevista ao G1, o brasileiro Álvaro Lima,
diretor de pesquisas e assessor para desenvolvimento econômico
da Prefeitura de Boston, cidade que reúne a maior comunidade
brasileira nos EUA.
Leia também:
Governo
garante sigilo de dados, mas imigrantes temem
'armadilha' do censo
O número de brasileiros vivendo nos Estados Unidos passa de 1
milhão, mas nos dados oficiais do governo daquele país constam
apenas aproximadamente um quarto deles, o que fragiliza o grupo
politicamente e faz com que as cidades em que vivem não estejam
financeiramente estruturadas para oferecer todos os serviços a eles.
Foto: Reprodução
Modelo de formulário usado pelo censo na contagem
da população dos EUA (Foto: Reprodução)
O contraste se dá porque as políticas públicas do governo
norte-americano são baseadas em dados do censo, e muitos
imigrantes brasileiros não responderam à última pesquisa,
realizada em 2000.
“O censo sempre subestima as populações de baixa
renda e imigrantes, que respondem menos ao questionário. É
preciso um esforço muito grande para que as pessoas respondam ao
censo”, explicou Lima, que coordena parte do trabalho na região
de Boston, no estado de Massachusetts, que mais concentra
brasileiros no país, cerca de 330 mil pessoas.
Segundo ele, o censo do próximo ano vai ter a
mesma dificuldade de registrar o número total de imigrantes, e
por isso a campanha de conscientização começou mais cedo.
“Muitos imigrantes têm medo de responder ao censo, mesmo que seja
totalmente anônimo.” O censo não distingue entre brasileiros com
documentação ou sem, explicou, não sendo um risco para a
população que vive ilegalmente no país. “As pessoas têm medo,
mesmo assim, e por isso é importante a mobilização dos
brasileiros, para mostrar que não há risco.”
O diretor do Centro do Imigrante Brasileiro é um dos que têm
suspeitas, e defende até mesmo um boicote ao censo.
A segurança dos imigrantes, mesmo ilegais, é algo
ressaltado também pela diretora regional do Census Bureau em
Boston, Kathleen Ludgate. Em entrevista ao G1,
ela explicou que a confidencialidade é obrigatória e que, por
lei, não se pode distribuir as respostas individuais para
nenhuma agência governamental. "Nenhuma outra agência do
governo tem acesso às informações do censo, que são protegidas
por lei, e a Justiça sempre acatou a proteção ao sigilo",
disse. Ela é coordenadora do trabalho do censo nos estados de
Connecticut, New Hampshire, Vermont, Maine, Rhode Island, parte
de Nova York e Porto Rico.
saiba mais
Segundo dados do próprio censo, a lei federal Title 13 proíbe a
divulgação de dados pessoais coletados por 72 anos. Nenhuma
agência governamental, nem mesmo o presidente dos Estados Unidos
tem acesso privilegiado aos dados pessoais coletados pelo censo
e a lei Title 13 esá acima de qualquer mandado judicial.
Contagem
A contagem da população norte-americana, que acontece a cada dez
anos, é feita de uma forma diferente da brasileira. Enquanto no
Brasil os recenseadores fazem toda a contagem visitando a
população de casa em casa, lá, uma primeira contagem é feita
pelo correio. O censo envia formulários a todos os endereços e
aguarda as respostas, que são registradas. Os recenseadores
visitam apenas as casas de quem não respondeu ao formulário.
As estatísticas do censo dizem que a população
atual dos Estados Unidos deve ser de pouco mais de 307 milhões
de pessoas. Segundo o Ministério de Relações Exteriores, os
Estados Unidos são o país que atrai mais brasileiros, e o número
de imigrantes do Brasil é de 1,24 milhão, segundo levantamento
dos postos consulares.
Apesar disso, o censo norte-americano de 2000, o último
realizado, apontou que havia apenas 212 mil brasileiros no país,
e o levantamento por amostragem realizado em 2007 apontava 342
mil pessoas, o que torna o grupo menos relevante na hora em que
são tomadas as decisões de política pública pelos governos
nacional e local.
Pelos dados oficiais do censo registrados pelo governo
norte-americano, há mais de 30 milhões de imigrantes vivendo no
país. De acordo com esses números, a comunidade brasileira é
apenas a 24ª na lista de grupos estrangeiros no país, liderada
de longe pelos mexicanos, com mais de 11 milhões de imigrantes.
Se os Estados Unidos contabilizassem todos os 1,24 milhão de
brasileiros, a comunidade do país seria a 5ª maior, perdendo
apenas para México, China, Filipinas e Índia.
“O censo impacta a população porque vários recursos do governo
federal são distribuídos para os estados e para as cidades com
base na população. Então, se alguém não é contado, o recurso
recebido é menor de que a população que depende dele”, explicou Lima.
Todas as fórmulas do governo federal que levam em consideração a
população, seja saúde, educação e uma série de programas
federais, dependem da correção dos dados. “Se os imigrantes não
respondem ao censo, o dado do governo fica errado e a
distribuição de verba é feita de forma equivocada.”
Segundo a diretora do censo, um outro fator
relevante é que várias formas de representação política do país
são planejadas com base na população. É importante saber o
número real de brasileiros pelo censo para que o grupo esteja
representado politicamente de forma correta. Ela explicou,
entretanto, que o governo não checa os dados enviados pela
população pelo correio, e que o censo se baseia no que for
respondido. "Não há resposta errada. O que estiver
preenchido é o que vai ser levado em conta", explicou.
Contando brasileiros
Segundo Lima, apesar da grande importância de todos os
brasileiros responderem ao censo, a contagem a ser realizada no
próximo ano tem problemas.
“Os brasileiros não vão aparecer nos dados da contagem como
‘brasileiros’ [não há essa alternativa], mas como ‘outros’, pois
o censo não inclui esta categoria [brasileiros] de imigrante”,
explicou. Mas, no formulário, há um campo em branco no qual o
imigrante pode escrever ali a nacionalidade. Ludgate alegou ser
impossível ter opção de todos os grupos estrangeiros que vivem
nos EUA, mas disse que os brasileiros podem preencher por
escrito esta origem na parte adequada.
Segundo ele, é importante que o imigrante registre que é
brasileiro, para que se possa pedir uma tabulação especial. “Não
é garantido, mas pelo menos há o registro. Mas é preciso que
todos respondam ao censo.”
“Toda classificação do censo, historicamente, é um
processo político. O primeiro censo dos EUA só incluía homens
brancos, donos de propriedade. Depois incluíram mulheres,
incluíram negros, depois entrou uma categoria de hispânicos.
Hoje, como há vários novos grupos, existe um movimento para se
aumentar o número de categorias no registro do censo”, explicou.
A diretora do Census Bureau explicou que a participação no censo
pode tornar a comunidade brasileira mais forte politicamente.
"Os brasileiros podem se fazer mais visíveis para o
governo", disse.
Segundo Lima, registrar o número real de brasileiros que vivem no
país é mais um passo para que o grupo legitime sua luta por
direitos junto ao governo.
Fonte:G1
Foto: Reprodução/TV Globo
Multidão celebra o Brazilian Day, festa da
comunidade imigrante em Nova York (Foto: Reprodução/TV Globo)
Oito meses antes do início, em abril, da contagem oficial da
população dos EUA pelo censo do próximo ano, rádios e TVs
voltadas para imigrantes brasileiros no país fazem campanha para
que estes participem do processo e sejam incluídos nos dados
oficiais do governo norte-americano.
A intenção é fazer com que os brasileiros sejam contados para que
o grupo possa se fortalecer politicamente, passando a ser visto
como relevante para a sociedade norte-americana, explicou, em
entrevista ao G1, o brasileiro Álvaro Lima,
diretor de pesquisas e assessor para desenvolvimento econômico
da Prefeitura de Boston, cidade que reúne a maior comunidade
brasileira nos EUA.
Leia também:
Governo
garante sigilo de dados, mas imigrantes temem
'armadilha' do censo
O número de brasileiros vivendo nos Estados Unidos passa de 1
milhão, mas nos dados oficiais do governo daquele país constam
apenas aproximadamente um quarto deles, o que fragiliza o grupo
politicamente e faz com que as cidades em que vivem não estejam
financeiramente estruturadas para oferecer todos os serviços a eles.
Foto: Reprodução
Modelo de formulário usado pelo censo na contagem
da população dos EUA (Foto: Reprodução)
O contraste se dá porque as políticas públicas do governo
norte-americano são baseadas em dados do censo, e muitos
imigrantes brasileiros não responderam à última pesquisa,
realizada em 2000.
“O censo sempre subestima as populações de baixa
renda e imigrantes, que respondem menos ao questionário. É
preciso um esforço muito grande para que as pessoas respondam ao
censo”, explicou Lima, que coordena parte do trabalho na região
de Boston, no estado de Massachusetts, que mais concentra
brasileiros no país, cerca de 330 mil pessoas.
Segundo ele, o censo do próximo ano vai ter a
mesma dificuldade de registrar o número total de imigrantes, e
por isso a campanha de conscientização começou mais cedo.
“Muitos imigrantes têm medo de responder ao censo, mesmo que seja
totalmente anônimo.” O censo não distingue entre brasileiros com
documentação ou sem, explicou, não sendo um risco para a
população que vive ilegalmente no país. “As pessoas têm medo,
mesmo assim, e por isso é importante a mobilização dos
brasileiros, para mostrar que não há risco.”
O diretor do Centro do Imigrante Brasileiro é um dos que têm
suspeitas, e defende até mesmo um boicote ao censo.
A segurança dos imigrantes, mesmo ilegais, é algo
ressaltado também pela diretora regional do Census Bureau em
Boston, Kathleen Ludgate. Em entrevista ao G1,
ela explicou que a confidencialidade é obrigatória e que, por
lei, não se pode distribuir as respostas individuais para
nenhuma agência governamental. "Nenhuma outra agência do
governo tem acesso às informações do censo, que são protegidas
por lei, e a Justiça sempre acatou a proteção ao sigilo",
disse. Ela é coordenadora do trabalho do censo nos estados de
Connecticut, New Hampshire, Vermont, Maine, Rhode Island, parte
de Nova York e Porto Rico.
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Segundo dados do próprio censo, a lei federal Title 13 proíbe a
divulgação de dados pessoais coletados por 72 anos. Nenhuma
agência governamental, nem mesmo o presidente dos Estados Unidos
tem acesso privilegiado aos dados pessoais coletados pelo censo
e a lei Title 13 esá acima de qualquer mandado judicial.
Contagem
A contagem da população norte-americana, que acontece a cada dez
anos, é feita de uma forma diferente da brasileira. Enquanto no
Brasil os recenseadores fazem toda a contagem visitando a
população de casa em casa, lá, uma primeira contagem é feita
pelo correio. O censo envia formulários a todos os endereços e
aguarda as respostas, que são registradas. Os recenseadores
visitam apenas as casas de quem não respondeu ao formulário.
As estatísticas do censo dizem que a população
atual dos Estados Unidos deve ser de pouco mais de 307 milhões
de pessoas. Segundo o Ministério de Relações Exteriores, os
Estados Unidos são o país que atrai mais brasileiros, e o número
de imigrantes do Brasil é de 1,24 milhão, segundo levantamento
dos postos consulares.
Apesar disso, o censo norte-americano de 2000, o último
realizado, apontou que havia apenas 212 mil brasileiros no país,
e o levantamento por amostragem realizado em 2007 apontava 342
mil pessoas, o que torna o grupo menos relevante na hora em que
são tomadas as decisões de política pública pelos governos
nacional e local.
Pelos dados oficiais do censo registrados pelo governo
norte-americano, há mais de 30 milhões de imigrantes vivendo no
país. De acordo com esses números, a comunidade brasileira é
apenas a 24ª na lista de grupos estrangeiros no país, liderada
de longe pelos mexicanos, com mais de 11 milhões de imigrantes.
Se os Estados Unidos contabilizassem todos os 1,24 milhão de
brasileiros, a comunidade do país seria a 5ª maior, perdendo
apenas para México, China, Filipinas e Índia.
“O censo impacta a população porque vários recursos do governo
federal são distribuídos para os estados e para as cidades com
base na população. Então, se alguém não é contado, o recurso
recebido é menor de que a população que depende dele”, explicou Lima.
Todas as fórmulas do governo federal que levam em consideração a
população, seja saúde, educação e uma série de programas
federais, dependem da correção dos dados. “Se os imigrantes não
respondem ao censo, o dado do governo fica errado e a
distribuição de verba é feita de forma equivocada.”
Segundo a diretora do censo, um outro fator
relevante é que várias formas de representação política do país
são planejadas com base na população. É importante saber o
número real de brasileiros pelo censo para que o grupo esteja
representado politicamente de forma correta. Ela explicou,
entretanto, que o governo não checa os dados enviados pela
população pelo correio, e que o censo se baseia no que for
respondido. "Não há resposta errada. O que estiver
preenchido é o que vai ser levado em conta", explicou.
Contando brasileiros
Segundo Lima, apesar da grande importância de todos os
brasileiros responderem ao censo, a contagem a ser realizada no
próximo ano tem problemas.
“Os brasileiros não vão aparecer nos dados da contagem como
‘brasileiros’ [não há essa alternativa], mas como ‘outros’, pois
o censo não inclui esta categoria [brasileiros] de imigrante”,
explicou. Mas, no formulário, há um campo em branco no qual o
imigrante pode escrever ali a nacionalidade. Ludgate alegou ser
impossível ter opção de todos os grupos estrangeiros que vivem
nos EUA, mas disse que os brasileiros podem preencher por
escrito esta origem na parte adequada.
Segundo ele, é importante que o imigrante registre que é
brasileiro, para que se possa pedir uma tabulação especial. “Não
é garantido, mas pelo menos há o registro. Mas é preciso que
todos respondam ao censo.”
“Toda classificação do censo, historicamente, é um
processo político. O primeiro censo dos EUA só incluía homens
brancos, donos de propriedade. Depois incluíram mulheres,
incluíram negros, depois entrou uma categoria de hispânicos.
Hoje, como há vários novos grupos, existe um movimento para se
aumentar o número de categorias no registro do censo”, explicou.
A diretora do Census Bureau explicou que a participação no censo
pode tornar a comunidade brasileira mais forte politicamente.
"Os brasileiros podem se fazer mais visíveis para o
governo", disse.
Segundo Lima, registrar o número real de brasileiros que vivem no
país é mais um passo para que o grupo legitime sua luta por
direitos junto ao governo.
Fonte:G1