Cidades do interior têm internet gratuita no Brasil
FELIPE BÄCHTOLD
da Agência Folha
Em Mâncio Lima, cidade do Acre, na fronteira com o Peru, apenas 5% dos
habitantes recebem água encanada em casa. Mas o morador que tiver um
computador pode acessar a internet de graça pelo sistema sem fio
instalado pela prefeitura no mês de maio.
Assim como o município de 13 mil habitantes do Acre, prefeituras de
todo o país, especialmente de pequenas cidades, vêm se mobilizando para
instalar sistemas gratuitos de internet para a população.
A implantação do sistema já havia causado polêmica em grandes cidades
na campanha eleitoral do ano passado, quando candidatos como Marta
Suplicy (PT), em São Paulo, chegaram a prometer o acesso universal e
gratuito à internet.
Em três cidades, os prefeitos aproveitaram as festas de aniversário
do município para lançar os sistemas. Em Jaboticabal (SP), a prefeitura
diz já ter investido R$ 1 milhão no sistema nos últimos quatro anos.
Poços de Caldas (MG) gastou R$ 315 mil com o projeto.
Em Parintins (AM), de 102 mil habitantes e famosa por seu festival
folclórico, a prefeitura instalou antenas em praças que permitem o
acesso.
Segundo a administração municipal, a novidade atrai usuários com
notebooks ao local. "Diariamente, umas 50 pessoas sentam na praça,
levam suas cadeiras. Tem gente que começa a acessar às 7h da noite e
sai às 3h da manhã", diz Francisco Neto, coordenador do projeto. O
mesmo ocorre em Manacapuru, também no Amazonas.
A prefeitura de Parintins gastou R$ 7.000 na importação de cada
antena que possibilita o acesso. A mesma quantia foi paga em Mâncio
Lima. Segundo a chefe de gabinete, Maria Ivete Pinheiro, havia muita
demanda por internet na cidade.
Em parte das cidades, há restrições para conteúdos considerados
inadequados, como sites eróticos. Rio Verde (GO), que iniciou o serviço
no início do mês, veta o download ilegal de músicas e filmes.
Para o sociólogo Sérgio Amadeu, que é doutor pela USP e pesquisa
inclusão digital, o modelo adotado pelas prefeituras no Brasil é
adequado para pequenas cidades. Ele afirma que, em levantamento com
municípios que adotaram o sistema, mais moradores acabaram comprando
computadores.
Diz ainda que, em cidades carentes, a implantação da internet
gratuita "é uma forma de romper a reprodução da miséria" e pode gerar
empregos.
Subutilizado
Pouca gente parece saber, mas quem vai à praça central de Ribeirão
Pires, na Grande São Paulo, pode acessar a internet sem pagar nada. O
local, conhecido como "Vila do Doce", com cafés e bares, é uma espécie
de ponto de encontro da cidade. E com conexão gratuita à rede.
A prefeitura do município, de 107 mil habitantes, investiu R$ 140
mil para inaugurar no ano passado o ponto de acesso. O vendedor André
Rodrigues, 30, trabalha nas proximidades da vila e se acostumou a
aproveitar a conexão livre em seu BlackBerry. "Facilita. Se precisar,
[a qualquer hora] dá para mandar um e-mail", diz. Ele reclama que a
rede é instável e, às vezes, não é detectada.
Parte dos comerciantes e funcionários que trabalham na praça, porém,
desconhecem a existência do sistema. A Folha esteve na praça na tarde
da última sexta-feira e não havia moradores aproveitando o acesso à
internet.
Questionadas pela reportagem, a Anatel (Agência Nacional de
Telecomunicações) e o Ministério das Comunicações disseram que não
tinham como informar quantas cidades já lançaram esse tipo de serviço
em todo o país.
Em Tibagi (PR), o prefeito Sinval Silva (PMDB) diz que a ideia de
implantar o acesso à rede é auxiliar quem não tem dinheiro para pagar
provedor.
"O cidadão pode comprar o computador. Para ele ter um sinal, precisa
ter um telefone fixo. Somando, ele vai ter que pagar R$ 150 por mês
para a companhia telefônica. Nós queremos fornecer isso gratuitamente.
E ele vai utilizar os R$ 150 para fazer outra coisa, até para pagar a
prestação do computador."
Nos EUA
Cercada de polêmica, a implantação de sistemas de acesso gratuito de
internet nos Estados Unidos não foi bem-sucedida em algumas cidades.
Em San Francisco, Chicago e na Filadélfia, problemas nas parcerias
privadas que sustentavam os projetos nos últimos anos acabaram
provocando o fim da experiência.
O modelo é criticado por representar uma ação estatal em uma área
tradicionalmente regida pela iniciativa privada. Os defensores da
política dizem que ela beneficia localidades que não seriam atendidas
pelo sistema convencional.
FELIPE BÄCHTOLD
da Agência Folha
Em Mâncio Lima, cidade do Acre, na fronteira com o Peru, apenas 5% dos
habitantes recebem água encanada em casa. Mas o morador que tiver um
computador pode acessar a internet de graça pelo sistema sem fio
instalado pela prefeitura no mês de maio.
Assim como o município de 13 mil habitantes do Acre, prefeituras de
todo o país, especialmente de pequenas cidades, vêm se mobilizando para
instalar sistemas gratuitos de internet para a população.
Fred Chalub/Folha Imagem |
"Vila do Doce", em Ribeirão Pires, na Grande SP, possui sinal gratuito de internet; município tem população de 107 mil habitantes |
A implantação do sistema já havia causado polêmica em grandes cidades
na campanha eleitoral do ano passado, quando candidatos como Marta
Suplicy (PT), em São Paulo, chegaram a prometer o acesso universal e
gratuito à internet.
Em três cidades, os prefeitos aproveitaram as festas de aniversário
do município para lançar os sistemas. Em Jaboticabal (SP), a prefeitura
diz já ter investido R$ 1 milhão no sistema nos últimos quatro anos.
Poços de Caldas (MG) gastou R$ 315 mil com o projeto.
Em Parintins (AM), de 102 mil habitantes e famosa por seu festival
folclórico, a prefeitura instalou antenas em praças que permitem o
acesso.
Segundo a administração municipal, a novidade atrai usuários com
notebooks ao local. "Diariamente, umas 50 pessoas sentam na praça,
levam suas cadeiras. Tem gente que começa a acessar às 7h da noite e
sai às 3h da manhã", diz Francisco Neto, coordenador do projeto. O
mesmo ocorre em Manacapuru, também no Amazonas.
A prefeitura de Parintins gastou R$ 7.000 na importação de cada
antena que possibilita o acesso. A mesma quantia foi paga em Mâncio
Lima. Segundo a chefe de gabinete, Maria Ivete Pinheiro, havia muita
demanda por internet na cidade.
Em parte das cidades, há restrições para conteúdos considerados
inadequados, como sites eróticos. Rio Verde (GO), que iniciou o serviço
no início do mês, veta o download ilegal de músicas e filmes.
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Para o sociólogo Sérgio Amadeu, que é doutor pela USP e pesquisa
inclusão digital, o modelo adotado pelas prefeituras no Brasil é
adequado para pequenas cidades. Ele afirma que, em levantamento com
municípios que adotaram o sistema, mais moradores acabaram comprando
computadores.
Diz ainda que, em cidades carentes, a implantação da internet
gratuita "é uma forma de romper a reprodução da miséria" e pode gerar
empregos.
Subutilizado
Pouca gente parece saber, mas quem vai à praça central de Ribeirão
Pires, na Grande São Paulo, pode acessar a internet sem pagar nada. O
local, conhecido como "Vila do Doce", com cafés e bares, é uma espécie
de ponto de encontro da cidade. E com conexão gratuita à rede.
A prefeitura do município, de 107 mil habitantes, investiu R$ 140
mil para inaugurar no ano passado o ponto de acesso. O vendedor André
Rodrigues, 30, trabalha nas proximidades da vila e se acostumou a
aproveitar a conexão livre em seu BlackBerry. "Facilita. Se precisar,
[a qualquer hora] dá para mandar um e-mail", diz. Ele reclama que a
rede é instável e, às vezes, não é detectada.
Parte dos comerciantes e funcionários que trabalham na praça, porém,
desconhecem a existência do sistema. A Folha esteve na praça na tarde
da última sexta-feira e não havia moradores aproveitando o acesso à
internet.
Questionadas pela reportagem, a Anatel (Agência Nacional de
Telecomunicações) e o Ministério das Comunicações disseram que não
tinham como informar quantas cidades já lançaram esse tipo de serviço
em todo o país.
Em Tibagi (PR), o prefeito Sinval Silva (PMDB) diz que a ideia de
implantar o acesso à rede é auxiliar quem não tem dinheiro para pagar
provedor.
"O cidadão pode comprar o computador. Para ele ter um sinal, precisa
ter um telefone fixo. Somando, ele vai ter que pagar R$ 150 por mês
para a companhia telefônica. Nós queremos fornecer isso gratuitamente.
E ele vai utilizar os R$ 150 para fazer outra coisa, até para pagar a
prestação do computador."
Nos EUA
Cercada de polêmica, a implantação de sistemas de acesso gratuito de
internet nos Estados Unidos não foi bem-sucedida em algumas cidades.
Em San Francisco, Chicago e na Filadélfia, problemas nas parcerias
privadas que sustentavam os projetos nos últimos anos acabaram
provocando o fim da experiência.
O modelo é criticado por representar uma ação estatal em uma área
tradicionalmente regida pela iniciativa privada. Os defensores da
política dizem que ela beneficia localidades que não seriam atendidas
pelo sistema convencional.